O estudo sobre o titulo, submete para uma correlação positiva entre coping, resiliência e qualidade de vida.

Durante o período de recolha de amostra, em presença dos próprios doentes, foi-me permitido testemunhar de forma muito direta, o quanto o modo como vivem a doença acaba por lhes condicionar parcial ou permanentemente a vida.

Fui despertada pela curiosidade mas simultaneamente pela certeza que esta investigação me habilitaria a melhor compreender os dados em causa. O acompanhamento psicológico de doentes ou familiares destes, requererá um eficaz domínio destas premissas, de forma a garantir que perante uma inevitável situação de stress, esta possa ser orientada para garantir no final, uma melhor qualidade de vida.

O presente estudo indica algumas limitações, pois não poderá ser generalizado para a população em geral, mas vai de encontro aos estudos consultados na literatura noutras circunstâncias. A amostra, sendo uma amostra clínica, foi difícil de ser conseguida. O tempo e os prazos a cumprir fizeram com que nos restringíssemos à área da capital do país.
O cancro tem um impacto cada vez mais emergente nas sociedades em desenvolvimento e no mundo em geral, fruto de um progresso tecnológico e cientifico.

O progresso da investigação, associado ao desenvolvimento das técnicas terapêuticas, permitiu aumentar a sobrevida dos doentes com cancro, proporcionando desta forma uma maior atenção para os aspetos relacionados com a qualidade de vida. O cancro provoca no doente sentimentos de incerteza, insegurança e medo, que se traduzem nas suas emoções, nas relações interpessoais, profissionais e mesmo na sua vida futura.

A análise das implicações psicossociais da doença física, certifica que o indivíduo reage com o impacto da rotura com níveis pre-estabelecidos, de funcionamento pessoal e social, sublinhando a necessidade de operar num estado de equilíbrio. A necessidade de homeostasia fisiológica, é similar à do equilíbrio social, psicológico e moral. A doença funcional é sentida como uma situação incomum e major, podendo fazer com que as respostas sejam inadequadas para lidar com fenómeno, conduzindo a um estado de crise que se manifesta por respostas emocionais negativas (medo, culpa, desespero) e desorganização psicossocial, o que foi postulado por Moos (1982).

E, sendo a resiliência um constructo inserido nas prioridades de investigação da Psicologia, esta investigação permite-nos insistir na pertinência do estudo das emoções positivas, a que nas últimas décadas os Psicólogos têm dado ênfase, aumentando os estudos do que se convencionou chamar-se de Psicologia Positiva (Barros, 2004).

A Psicologia Positiva vem marcando espaço nos últimos anos. Alguns autores, como Rtter (1993), fazem uma critica à tendência limitante do estudo baseado no sofrimento, afirmando que apesar da Psicologia procurar entender como os indivíduos sobrevivem em situações de adversidade, muito pouco se sabe sobre como as pessoas normais se desenvolvem em condições mais saudáveis. A partir da década de 70, a prática clínica da Psicologia começava a deixar de utilizar o modelo centrado no tratamento de distúrbios, para começar a visualizar importância da clínica preventiva (Yamamoto, 2005). Neste contexto, a Psicologia Positiva preocupa-se com o estudo dos fenómenos psicológicos como a felicidade, altruísmo e satisfação (Yunes, 2003). A ideia de construir uma estrutura para este novo conceito dentro da Psicologia é proposta por Seligman e Csikszentmihalyi (2005), visando a experiência subjetiva positiva do ser humano. Eles defendem que o trabalho de prevenção deve criar uma nova ciência da forma humana, na qual a missão será entender e aprender como promover virtudes, como a coragem, o otimismo, os relacionamentos interpessoais, entre outras.

Para que as novas gerações não tenham uma menor qualidade de vida, é necessário incutir a resiliência, a esperança, o otimismo, para as tornar mais resistentes às adversidades e capazes de levar uma vida mais feliz e produtiva (Seligman et al., 2005). Trata-se realmente de um novo paradigma da Psicologia, mais centrado na promoção do que no tratamento.
“Bem-estar subjetivo é o estudo científico da felicidade: o que a causa, o que a destrói e quem a tem” (Albuquerque & Tróccoli, 2004 p.154). Este conceito distingue-se de saúde mental, porque o indivíduo pode estar insano e, ainda, assim sentir-se feliz. Assim, como depende de determinadas circunstâncias ou vivências stressantes, como é o exemplo, da vivência de uma doença crónica.

Assim, o fato de ser um doente cancerígeno, não implica necessariamente a experiência do sentimento de infelicidade constante. A pessoa pode sofrer oscilações quanto ao bem-estar em diferentes momentos da doença. A fase do diagnóstico, do tratamento e da reabilitação são estágios distintos e, neles o indivíduo pode viver períodos de tensão e stress, mas também felicidade, alegria, vitória, entre outros.
Pode falar-se de emoções positivas, de valores, de positividade, qualidade de vida, forças de caráter, funcionamento ou dinamismo humano opcional, assertividade, (sin)energia psíquica, todos eles podendo ter uma componente cognitiva, outra mais afetiva ou ainda mais comportamental.

Não obstante, poderão todos estes adjetivos ser considerados como fatores de proteção contra as doenças, uma vez que, de uma forma complexa, fortalecem o sistema imunitário (sistema responsável pela proteção do organismo contra qualquer fenómeno estranho ao mesmo). Pessoas que sentem regularmente emoções positivas são, de alguma forma, erguidas numa ―espiral ascendente‖ de contínuo crescimento e realização, tornam-se mais úteis aos outros e podem transformar comunidades em organizações sociais mais coesas e harmoniosas e, de moral mais elevado. As emoções positivas não partilham apenas o facto de alargarem os reportórios momentâneos de pensamento-acção, como também partilham a tarefa de construir os recursos pessoais, desde os recursos físicos e intelectuais, até aos recursos sociais. O mais importante é que estes recursos tendem a ser duradouros.

Pela minha vida pessoal e pela experiência académica adquirida, tive oportunidade de me confrontar com a difícil e dolorosa situação que representa a doença cancerígena.

Mas, simultaneamente, tive oportunidade de perto observar o quanto um mesmo, ou semelhante diagnóstico, se traduz em impactos distintos nos indivíduos afetados.

O impacto distinto tem por base dimensões psicológicas, sociais, culturais, e educacionais. Dimensões que ajudam a construir variáveis do ser humano como a serenidade, a perseverança, autoconfiança, sentido de vida e autossuficiência. Todas potenciam a sua capacidade e competência para ser resiliente à doença e de usar estratégias de coping, para garantir uma melhor qualidade de vida.
Creio que este estudo contribuirá para a compreensão de como esta população vive esta fase da vida, através da resiliência, estratégias de coping e a sua implicação na boa qualidade de vida, podendo fornecer dados que sustentem apostar na prevenção através da Psicologia Positiva, promovendo o Amor, a Felicidade, a Alegria, o Otimismo, a Esperança, o Perdão, a Sabedoria, a Coragem, a Beleza, o Sentido de Vida, e Espiritualidade e a Religião, entre outros (Oliveira, 2010).